quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Cordélia Brasil | Críticas sobre a peça

CordéliaDepois de 30 anos, Cordélia Brasil, peça escrita pelo escritor beat Antonio Bivar, renasce sob direção de Gilberto Gawronski, com Maria Padilha, Cadu Fávero e George Sauma no elenco. O texto de Bivar propõe uma encenação realista com exageros tropicalistas. Um Brasil que muitas vezes abandonava suas cores para se americanizar.
Para sustentar seu companheiro Leônidas, que sonha em ser escritor de histórias em quadrinhos, Cordélia, além de trabalhar como auxiliar de escritório, começa a se prostituir. Ela traz para casa um jovem de 16 anos, Rico, que acaba morando com eles. Forma-se então um triângulo, em que se insinua a cumplicidade entre os dois homens, já que Rico se identifica com o comportamento de Leônidas para com Cordélia. A relação torna-se cada vez mais conflituosa, acabando por precipitar um desfecho trágico que, paradoxalmente, é tratado de forma poética e absurda. 

"Suicídio tropical. À medida que o desfecho se aproxima, Bivar introduz no tom de realismo, até então característico da peça, um surpreendente elemento de fantasia, que cresce e se expande com enorme rapidez, a ponto de acabar por sobrepor-se, inexoravelmente, ao realismo. A saída final de Leônidas se desenrola num clima de alucinada lógica sem lógica, que me faz pensar, toda vez que releio a peça, em "Pierrot lê Fou", de Godard; e o suicídio de Cordélia é, ao mesmo tempo, comovente e engraçado na sua cafonice: As últimas palavras da heroína, que se referem à marca que ela deixará da sua personagem pela terra - uma fotografia para qual pousou nua, na praia, a pedido de um fotógrafo americano -, constituem uma das mais poéticas contribuições para a antologia de nosso florescente tropicalismo. A facilidade com a qual Bivar conseguiu passar do Realismo para a fantasia me pareceu constituir a mais evidente prova do seu talento." YAN MICHALSKY( Jornal do Brasil, RJ, 1968)


"Em Cordélia, Bivar trata, sim, de um mundo marginalizado, mas não faz estardalhaço do fato, e, o que é mais importante, não extrapola interpretações definitivas da precária organização social que gerou aquele fragmento de inferno que mata pacientemente os que o habitam: em mundos menos absurdos, pode-se morrer por causas nobres e justificáveis, com o acompanhamento de um grande gesto; no mundo de Bivar, onde o trágico passa por banal, morre-se por um cigarro que alguém roubou." TITE DE LEMOS (O País, RJ, 1968)

"O talento nascente do jovem dramaturgo Antonio Bivar é inconteste. Há, em meio ao indomado caos, o importante que Antonio Bivar flagrantizou dentro da sua atitude negativa, a furiosa necessidade de afirmação e de registro que as criaturas têm na passagem por este velho e selvagem mundo. Este aspecto, o mais fundo da peça de Bivar, nos leva a algo para afirmarmos que existimos. Cordélia Brasil ficaria lembrada por uma fotografia, nua, como veio ao mundo. Cordélia Brasil é uma peça essencialmente moral." VAN JAFA (Correio da Manhã, RJ, 1968)

"A peça de Bivar é muito engraçada, muito terna e muito cruel. O marginalizado da classe média vivendo uma situação absurda de sobrevivência, desinteressando-se não só pelo destino da sociedade em que vive mas até mesmo pelo seu destino individual." LUIZ ALBERTO SANZ (Ultima Hora,RJ, 1968)

"Bivar possui uma força poética extraordinária e uma contundência poucas vezes vista entre os nossos autores." FAUSTO WOLFF( Tribuna da Imprensa, RJ, 1968)

FONTE: Portal SESCSP

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