quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Filme " Sábado " de Ugo Giorgetti com Maria Padilha

A cidade de São Paulo e o imaginário urbano: ficção e realidade no cinema de Ugo Giorgetti 



A equipe de filmagem grava o anúncio publicitário monopolizando o elevador que funciona, mas impede sua utilização pelos moradores do edifício “Argentelli”…  [Imagem cedida por Ugo Giorgetti]



















…enquanto o outro elevador se quebra e mantém confinadas pessoas de diferentes níveis sociais. (Sábado, 1995) [Imagem cedida por Ugo Giorgetti]




















…enquanto o outro elevador se quebra e mantém confinadas pessoas de diferentes níveis sociais. (Sábado, 1995) [Imagem cedida por Ugo Giorgetti]


















A Transgressão na construção da cidade e de sua História
Um bom exemplo desta ponte entre realidade e ficção ocorre entre o documentário “Edifício Martinelli” (1975) e o filme Sábado (1994-95) no qual realismo e ficção confundem-se de forma ímpar ao abordar temas como memória, tradição, conflito social, transgressão de normas de construção e utilização do espaço público ou privado, que historicamente materializam grande parte da cidade.
O edifício Martinelli é o primeiro arranha-céu da cidade de São Paulo, considerado o mais alto da América Latina, na época de sua construção, década de 1920. O imigrante italiano Giuseppe Martinelli, entusiasmado pela possibilidade de projeção pessoal e pelo poder simbólico do arranha-céu, construiu vários andares sem um projeto aprovado pela prefeitura (4). Esse edifício, referência histórica construída a partir da “transgressão”, marcou a mudança do modelo europeu de arquitetura e de urbanismo para o norte-americano.
Ugo Giorgetti trata com maestria a dimensão do tempo que tudo corrói: explora e confronta a arquitetura e as sociedades urbanas que, no plano ficcional da memória e do imaginário, apresentam situações que expõem os embates das principais forças sociais na metrópole de São Paulo. Inspirado pela realidade observada no edifício Martinelli, cria a ficção “Sábado” (1994-95), no qual o passado glamouroso do imponente edifício “Argentelli” localizado no centro antigo da cidade, ambos já decadentes, estabelecem o suporte para a narrativa. Nesse filme, introduz personagens de uma equipe de produção e filmagem. Em um sábado, rodam um anúncio publicitário no saguão do referido edifício, com o intuito de aproveitar um antigo elevador que oferecia um toque sofisticado ao produto a ser lançado. Giorgetti argumenta que a cidade se constrói pelos detalhes e neste filme, com poucos elementos do roteiro, dispõe-se a discorrer sobre temas como: Memória e Patrimônio – mobilidade social,  esvaziamento da vida dos grandes centros históricos em metrópoles - medo das pessoas de irem ao centro decadente criado por preconceito e diferenças de classes sociais - situações de convivência forçada entre indivíduos de diferentes níveis sociais que adaptam seu espaço pessoal para evitar os espaços indesejáveis frente ao dos outros indivíduos - espaços de confinamento, tal como ocorre em um elevador antigo que se quebra no filme Sábado. A espera de que alguém o conserte deixa muito clara a fragilidade do habitante de classe média que aguarda pacientemente por tudo, na ilusão e confiança de que os problemas serão solucionados, quase magicamente, pela Tecnologia! Um tema simples, mas denso ao reproduzir, na ficção, uma hipótese de microcosmo social presente em quase todas as situações de relacionamento nas cidades, além da vulnerabilidade dos habitantes nos espaços de qualquer metrópole.
Tudo indica que o Edifício Martinelli pode ser considerado emblemático da forma de produção do espaço a partir de uma cultura da transgressão. Não faltam exemplos na cidade de São Paulo.



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