sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“Não me levo a sério”



POR PEDRO MORAES
Marcelo Corrêa
Maria Padilha é boa de assunto, de risos e de gestos. Mas é só entrar na mira da máquina fotográfica que surge outra mulher, mais contida. Assumidamente reservada, ela parece ser o oposto da ex-camponesa deslumbrada Rosália, que interpreta em A Escola do Escândalo, peça dirigida por Miguel Falabella em cartaz no Rio, cuja história gira em torno de uma série de intrigas e critica o interesse sobre a vida alheia. “Sou péssima fofoqueira”, diz a atriz, de 51 anos. Em um bate-papo em seu confortável apartamento na Lagoa, no Rio, ela revela que leva a vida com bom humor, mesmo nas horas mais difíceis, como a morte da mãe, quando ela tinha 10 anos, e a do pai e a da irmã, em 2005, em um intervalo de quatro meses. “É uma estratégia de sobrevivência”, afirma ela, que foge do papel de vítima. “Prefiro rir de mim mesma. Eu me acho ridícula, não me levo muito a sério.” 

Sem fazer uma novela inteira desde 2003, quando atuou em Mulheres Apaixonadas, Maria fez uma participação especial em dois capítulos de Insensato Coração como Marlene, uma das namoradas do conquistador Teodoro, papel deTarcísio Meira. O sumiço da TV tem a ver com um desejo antigo: ter um filho. “Estou tentando adotar uma criança. Não posso fazer uma novela, chegar um bebê e eu não saber o que fazer. Estou há dois anos numa fila”, afirma. A atriz já foi casada com o diretor Paulo Reis, com o poeta Geraldo Carneiro e com o ator inglês Adam Kotz, mas, no papel, só com o iluminador Orlando Schaider, 37 anos, seu marido há dois anos. A seguir, ela fala sobre trabalho, vaidade e conta como está se preparando para ser mãe: “Espaço na casa eu tenho bastante. No coração, sempre tive”. 

QUEM: Por que passou a fazer menos novelas?
MARIA PADILHA:
 Tive convites maravilhosos, mas ou tinha um projeto de teatro ou coincidia com um filme. Também estou tentando adotar uma criança. Não posso fazer uma novela, chegar um bebê e eu não saber o que fazer. Estou há dois anos numa fila. Achei que você conseguia o certificado e pronto. Então, algumas novelas deixei de aceitar porque tinha acabado de conseguir o certificado. Quero uma criança que tenha até 4 anos. Isso é difícil à beça no Brasil. É uma burocracia nojenta. 

"No colégio, o professor falava: ‘sua caderneta não está assinada’. Eu respondia: ‘meu pai viajou’. Ele perguntava: ‘ e sua mãe?’. E eu dizia que ela morreu. Sabia que ia causar constrangimento e seria liberada."

QUEM: Não quis engravidar? 
MP: Foi uma opção durante algum tempo. Depois, acho que já não tinha um casamento firme para ter um filho. Nunca quis produção independente. Talvez idealizasse uma situação, exatamente por ter perdido a mãe cedo. Pensei que tinha que ser mãe, pai e filho. Pensei demais, calculei demais e deixei passar. 

QUEM: Como se prepara para ser mãe?
MP:
 Espaço na casa eu tenho bastante. No coração, sempre tive. 

QUEM: Sente-se grávida?
MP:
 É como se fosse uma gravidez, mas longa. Pensei que seria mais curta (risos). Eu fico toda hora pensando e preparando. Imaginando se a escada da casa não vai ser perigosa... Mas a justiça brasileira é preguiçosa. Não sonhei com nada porque estou muito aberta para o que vier. Escolhi que (a criança) tenha até 4 anos para eu poder influenciar e ajudar a formar sua personalidade. 

QUEM: Querer ter um filho tem a ver com carência?
MP:
 Acho que tem vários tipos de amor. Tem um amor que é de criar. Você não vai conseguir colocar numa peça, numa casa, no marido. E um tipo de amor para filho, mesmo. 

QUEM: Durante a sessão de fotos para esta entrevista você ficou tímida...
MP:
 É que estou sem personagem. Com personagem sou uma macaca, mas sou tímida. Antigamente eu era uma ostra. Hoje, entre amigos íntimos, posso até ser engraçada, histriônica. Mas tenho muito senso de humor, o que é fundamental. 

QUEM: O senso de humor a ajudou?
MP:
 É uma estratégia de sobrevivência e funcionou desde cedo sem eu saber. Tive uma perda muito grande: minha mãe, que morreu quando eu tinha 10 anos. Lembro que, no colégio, o professor falava: “Sua caderneta não está assinada”. Eu respondia: “Meu pai viajou”. Ele perguntava: “E sua mãe?”. E eu dizia que ela morreu. Sabia que ia causar constrangimento e seria liberada. Não gosto do lugar da vítima. Prefiro rir de mim mesma. Eu me acho ridícula, não me levo muito a sério. 

QUEM: Quando se sente ridícula?
MP:
 O ator, em geral, é meio ridículo. Essa coisa do ego, do autocentramento. Somos fugazes. Isso angustia muito e nos torna ridículos. 

QUEM: Uma atriz que se comporta como diva é ridícula?
MP:
 Todas temos momentos de divas ridículas, mas acho que esse papel não rende. O que é uma diva? Aquela que entra no camarim, dá piti e rasga o figurino. Aqui, se rasgar o figurino, não há dinheiro para outro. Aqui, só dá para ser uma diva-fubá (risos). 

QUEM: Em 2005, você perdeu seu pai e sua irmã num intervalo de quatro meses. Conseguiu superar essa dor?
MP:
 É uma cicatriz que vai estar sempre lá. O ser humano é capaz de sobreviver a coisas incríveis. Mais cedo ou mais tarde, passa. 

QUEM: Você demonstra não ter dificuldade para solucionar seus problemas.
MP:
 Faço análise há muito tempo, até por curiosidade. Assim como investigo um personagem, também é interessante investigar a personagem Maria. 

QUEM: Em sua primeira novela, Água Viva (1980), você foi expulsa da praia por curiosos porque gravaria uma cena de topless. O Brasil está menos careta?
MP:
 Não mudou e está mais. O mundo entrou nesse lance de politicamente correto, que é muito careta. As pessoas achavam que era proteção, que não haveria mais discriminação racial, mas na prática não é assim. O brasileiro é muito estranho, pode ir com um fiozinho no peito e na bunda que está vestido. Mas, sem nada, não pode. 

"O ator, em geral, é meio ridículo. Essa coisa do ego, do autocentramento. Somos fugazes. Isso angustia muito e nos torna ridículos."

QUEM: A sociedade ficou mais chata?
MP:
 Ficou muito mais, mas vai mudar. Os mais jovens não têm paciência com o politicamente correto. Acho o politicamente correto uma burrice. Uma novela como Vale Tudo tem outro sabor, excelência no texto. Parece que a novela era levada mais a sério, até porque o autor estava mais livre para falar o que quisesse. Hoje, existe uma censura velada. Da sociedade mesmo. 

QUEM: Para realizar o sonho de montar A Falecida, de Nelson Rodrigues, você posou nua para a Playboy, em 1994. Arrependeu-se?
MP:
 Não, as fotos são bonitas. Ia ter patrocínio e não rolou. Estava obcecada, já tinha virado a Zulmira (personagem da peça). Hoje, olhando para trás, acho que estava meio louca (risos). 

QUEM: A peça A Escola do Escândalo trata da exposição da vida particular. O que acha do interesse pela intimidade dos artistas?
MP:
 Não gosto de fofoca e sou péssima fofoqueira. Às vezes, até quero contar uma história, mas sou muito imprecisa. Tenho preguiça. Aí, resumo e perde a graça. 

QUEM: O que você faz para se proteger da exposição? 
MP: Faço tudo que posso para me proteger, mas não me privo de nada. Vou ao restaurante que quero, mas sei que talvez vá aparecer numa foto. 

QUEM: Você se prepara para não sair mal na foto?
MP:
 Gosto de andar de qualquer jeito, mas, em alguns lugares, como em estreias, não dá. Sei que vou enfrentar um batalhão de fotógrafos. Mas não vou ser hipócrita, claro que faço uma maquiagem melhor e escolho um vestidinho. Por causa dessa produção e porque acho que não é o melhor dia de ver um espetáculo, é raro eu ir. Só vou se algum amigo pede muito. 

QUEM: É vaidosa?
MP:
 Chegava a ser desleixada. Não tinha saco, nem o mínimo cuidado, mas mudei. Minha vaidade é bem administrada. Faço ginástica e tenho uma alimentação bem legal. 

QUEM: Já fez plástica?
MP: 
Fiz cirurgia de desvio de septo e mexi na ponta do nariz. A minha vaidade é muito voltada para minha profissão, começou depois que comecei a fazer novela. Mas me arrependi um pouco. Depois que mexeu na cartilagem, o nariz ficou um pouco dolorido e hoje parece que voltou a ser como era antes.
FONTE:QUEM

2 comentários:

  1. Tomara que ela consiga adotar uma criança, Memorial lá no blog novo tem post novo se você quiser dá uma passadinha pra conferir é só clicar no link abaixo, fique com Deus beijos.
    http://www.lucimarvirtual.blogspot.com.br/2012/11/xo-piolho.html

    ResponderExcluir
  2. Olá Lucimar, fico muito FELIZ com sua Visita ao Memorial
    Na verdade essa entrevista ñ é atual é do ano passado..tô re postando !
    Volte sempre :)
    beijos!

    ResponderExcluir