sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

'Lado a lado' esbarra em clichês, mas tem ótima história


Ambientada no início do século passado, “Lado a lado” tem tido êxito em cativar o público com discussões que nos dias de hoje praticamente já não fazem sentido. Tudo porque conta com uma trama bem-construída, empolgante, feita de intrigas, desencontros amorosos, vilões e mocinhos clássicos. Retratar passagens históricas, como a Revolta da Vacina, ou a da Chibata, não requer atualização, depende fundamentalmente de boa pesquisa. Mas falar de comportamentos já superados e levar o telespectador, de forma natural, a embarcar em outro sistema ético é mais difícil. João Ximenes e Claudia Lage, os autores da história das 18h, vêm conseguindo.
Um exemplo disso é a emancipação feminina. Tudo mudou muito desde 1910, quando Isabel (Camila Pitanga) foi rejeitada pelo pai, Afonso (Milton Gonçalves), por ter dançado em Paris. O barbeiro não consegue compreender a profissão da filha. Pela mesma razão, Zé Maria (Lázaro Ramos), a quem ela ama desde os primeiros capítulos, também hesitou bastante antes de se reaproximar dela. Paralelamente, Isabel aparece mantendo discussões com Diva (Maria Padilha) sobre as limitações impostas às mulheres. Diva, atriz, é outra dona de uma vida pouco ortodoxa para aqueles tempos. Laura (Marjorie Estiano), a principal mocinha, ousou se separar do marido. Com isso, sofre represálias da mãe, do padre, de quase todos. Nenhum desses acontecimentos — improváveis nos dias atuais — pareceu incompreensível para o público.
“Lado a lado” tem suas derrapadas e volta e meia esbarra em verbetes explicativos e clichês. Nada disso, porém, é dominante ou invalida as qualidades da novela. Sua história é cheia de fôlego e emana verdade. Por isso empolga.

FONTE: Patrícia Kogut 



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