quinta-feira, 7 de março de 2013

Com estética e elenco de primeira, 'Lado a Lado' merecia mais atenção



Lado a Lado é a novela das seis mais subestimada dos últimos anos. Com trama envolvente, atuações fortes, figurino, fotografia e cenários irretocáveis e um elenco digno de horário das nove, o folhetim assinado pela dupla João Ximenes Braga e Claudia Lage – estreantes no posto de autores principais – não conseguiu conquistar as massas. Claramente superior às tramas anteriores e de números de audiência medianos, como Amor Eterno Amor e A Vida da Gente, a novela, que chega ao fim esta semana, será lembrada como a pior média de audiência do horário das seis dos últimos anos na TV Globo, em torno de 17 pontos. O que leva a crer que, na televisão, qualidade e bons índices no Ibope nem sempre andam juntos. Apesar da exuberância técnica e das boas interpretações, nota-se que, desde a estreia, a novela já havia obtido números insatisfatórios. Em franca queda livre, chegou a amargar 13 pontos em alguns capítulos. Inicialmente, culpou-se o lançamento em pleno horário político. Logo depois, o horário de verão. Até que o didatismo da trama ficou na mira da crítica.
Com texto de alto valor histórico, os autores até tentaram, mas era impossível ambientar a novela em pleno Brasil pós-abolição da escravatura sem adotar um tom mais didático em seus diálogos. Aliado a isso, foi sintomático o pessimismo geral da emissora e do público em relação à popularidade das tramas que se seguiram após o sucesso de Cheias de Charme eAvenida Brasil, que gerou a impressão de que o telespectador estava de "ressaca" da teledramaturgia. Quem não acompanhou o folhetim dirigido por Dennis Carvalho, perdeu a chance de ver a evidente química dos casais protagonistas da história: Laura e Edgar – de Marjorie Estiano e Thiago Fragoso – e Isabel e Zé Maria – de Camila Pitanga e Lázaro Ramos. Românticos e clichês, em cena, os tipos elaborados por Marjorie e Thiago pareciam mesmo aqueles casais doces dos contos de fadas. Na contramão da doçura, os entraves passados pelos personagens de Camila e Lázaro conseguiram representar a coragem dos negros durante o início do século 20.
Se toda novela que se preze precisa de uma boa vilã, Patrícia Pillar e sua Constância mantiveram o nível de maldades no topo, com uma construção bem elaborada da atriz para a mulher com sede de poder e carente de sentimentos reais. Outro ponto positivo foi o núcleo cômico capitaneado por Paulo Betti e Maria Padilha, que garantiu leveza e risadas com humor fino e repleto de ironias e comparações entre passado e presente. Tudo isso sob a linda e cinematográfica luz assinada pelo experiente Walter Carvalho – diretor de fotografia de filmes como Central do Brasil e Carandiru –, em cenas embaladas por canções como O Mundo é um Moinho, de Cartola, interpretada por Beth Carvalho, além de músicas de Marcelo Jeneci, Marcelo D2 e dos pernambucanos da Nação Zumbi. Misturadas no tempo, espaço e som, trilha e cenas evidenciavam a modernidade, agilidade e fluidez de uma novela que merecia ter tido mais atenção.

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