domingo, 30 de setembro de 2012

A ESCOLA DO ESCÂNDALO



A ESCOLA DO ESCÂNDALO

Em cartaz no Teatro Raul Cortez


MARIA PADILHA, TONICO PEREIRA, BRUNO GARCIA, CRISTINA MUTARELLI, RITA ELMÔR, MARCELO ESCOREL, CHICO TENREIRO, BIANCA COMPARATO e ARMANDO BABAIOFF
Atriz convidada JACQUELINE LAURENCE

Falar mal da vida alheia, incitar boatos e tramar contra a reputação do próximo são alguns dos esportes prediletos do homem desde que o mundo é mundo. Na crítica inteligente, mordaz e pra lá de divertida a essa prática tão comezinha quanto perversa reside talvez uma das chaves do sucesso e da longevidade de A Escola do Escândalo (School for Scandal), do irlandês Richard Brindley Sheridan (1751-1815). Tida como uma das melhores comédias de intrigas da língua inglesa, a trama ambientada nos salões da corte e da alta burguesia londrinos do final do século XVIII, vem fazendo o deleite de plateias do mundo inteiro desde que estreou pela primeira vez. Isso foi em maio de 1777 no Teatro Drury Lane, em Londres, com direção do próprio autor.

Por um daqueles inexplicáveis descuidos, a peça permanecia inédita no Brasil.
Esse ano, o jejum de quase dois séculos e meio, foi quebrado em grande estilo.
Com adaptação e direção de Miguel Falabella e ótimo elenco de comediantes, o espetáculo fez grande sucesso em sua temporada carioca e agora chega aos palcos do Teatro Raul Cortez.

Inspirada nas comédias de costumes da fase áurea do teatro inglês da Restauração (1660-1715), A Escola do Escândalo (1777) retrata com maestria a frivolidade e a hipocrisia de uma sociedade regida menos por princípios morais que pelo jogo de interesses e aparências. Um jogo onde calúnias e intrigas sussurradas entre dentes nos salões explodiam, com rapidez e frequência admiráveis, nas manchetes dos panfletos sensacionalistas da corte, sempre ávidos por escândalos. Não é preciso falar da atualidade do texto de Sheridan num tempo em que, com o fenômeno da internet, a cultura da fofoca ganhou velocidade instantânea e dimensões planetárias.

Sinopse – Casado há apenas sete meses, o rabugento comendador Pedro Atiça (Tonico Pereira) vive às turras com a mulher Rosália (Maria Padilha), que, habituada a pacatez do dia a dia no campo, agora se deslumbra com as delícias da vida fútil na alta sociedade.
Guardião legal da sobrinha, a boa e casta Maria (Bianca Comparato), ele se vê enredado em uma trama rocambolesca envolvendo a disputa pela mão da menina. Movidos por interesses escusos, José Fachada (Bruno Garcia) e Dona Benferina (Rita Elmôr) fazem de tudo para arruinar de vez com a reputação daquele por quem cala o coração de Maria – o irmão de José, Carlos Fachada (Armando Babaioff). E para isso contam com a ajuda da pena ferina de Benjamin Mordessopra (MARCELO ESCOREL) e da língua ágil de Dona Cândida (Jacqueline Laurence).
Mas os planos da dupla sofrem uma reviravolta quando Dona Olívia (Cristina Mutarelli), a generosa tia dos irmãos Fachada, retorna de um longo período na Índia e, alertada por Barata (Chico Tenreiro), toma pé das tramoias do sobrinho.

A adaptação de Miguel Falabella condensa em três os cinco atos do original de Sheridan e compila em dez os vinte e poucos personagens que a povoam. E procura imprimir na cena a fluidez da pena do cultuado autor irlandês. A dinâmica de ocupação do espaço obedece a um fluxo contínuo de entradas e saídas e a uma partitura de gestos e movimentos deliciosamente desenhada por Marcia Rubin. Com o auxílio luxuoso de três discos giratórios de 2,5m de diâmetro sobre o palco, três espelhos de 3m de altura por 1,2m de largura flagram em diversos ângulos a galeria de tipos, quase sempre viperinos e de caráter duvidoso, que dá vida à trama, ao mesmo tempo em que transportam a plateia para dentro da cena, transformando-a em cúmplice silenciosa da rede de intrigas que vai sendo armada sob seus olhos.

A cenografia de Lia Renha envolve a caixa preta em uma moldura dourada, plotada com adornos de estilo rococó, com cortina de boca vinho, remetendo à estética dos teatrinhos de bonecos que se popularizaram na França e na Inglaterra daqueles idos. Pontuais, as referências geográficas e de época estão presentes também no mobiliário cênico de poucas peças – réplicas do século XVIII – e na releitura dos tradicionais papéis de parede de motivos florais ingleses, estampada em duas telas de fundo.
Com base em uma pesquisa alentada que vai da produção pictórica e dos croquis de moda ingleses e franceses do século XVIII à cinematografia moderna, a figurinista Emília Duncan coloca a história da moda a serviço da história de Sheridan e da encenação de Falabella, transitando com liberdade, e de acordo com a conveniência de cada personagem, entre o exagero do rococó francês e o requinte do inglês, numa bricolagem bem-humorada que não descarta pitadas de referência a ícones do atual cenário fashion britânico, como Vivienne Westwood e Alexander McQueen. O visagismo de Rose Verçosa opera na mesma sintonia. Com um pé na Europa do final dos anos 1700 e outro no século XXI, a maquiagem e as perucas, de formas e tamanhos variados, esbanjam teatralidade e adicionam à cena um toque de estranheza.

Orlando Schaider trabalha com 180 refletores e 68 canais de rack para criar um desenho de luz que dialoga intensamente com o cenário, e, com cores de correção, luz de ribalta, contraluz e paredes de luz promove recortes nítidos na cena, que contribuem para provocar no espectador a ilusão de estar diante de quadros vivos de época.
“Este é exatamente o antídoto de classe que precisamos neste mundo enlouquecido de celebridades no qual a invasão de privacidade está totalmente fora de controle e a arte da maledicência é exercida de forma grosseira.”

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