quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Em crônica publicada no jornal nesta quarta-feira, Artur Xexéo comenta trabalho de Maria Padilha no teatro




Em crônica publicada no jornal nesta quarta-feira, Artur Xexéo comenta trabalho de Maria Padilha no teatro 





O começo nem sempre é difícil, Maria Padilha: O namoro com o teatro deu certo. Nem precisa tentar outra vez
Eles ficaram conhecidos como "os grupos" e deram as cartas, por muito tempo, na programação teatral carioca. Começaram despretensiosamente. Num espaço, no Centro da cidade, uma turma liderada por Buza Ferraz apresentou "Cabaré Valentim". Quase simultaneamente, outra turma, dirigida por Paulo Reis, mostrava "O despertar da primavera". Em pouco tempo, não se falava de outra coisa. Foram espetáculos tão marcantes que os grupos que os representaram adotaram seus títulos como nomes próprios. Um ficou sendo o Pessoal do Cabaré; o outro, o Pessoal do Despertar. Começava ali a temporada dos grupos, todos formados na platéia do Asdrubal Trouxe o Trombone, trazendo ao teatro do Rio uma geração que, até hoje, está por aí, em alguma manifestação artística perto de você.


Gilda Guillon, Guida Viana, Pedro Cardoso, Felipe Pinheiro, Tim Rescala, Angela Rabelo, Miguel Falabella, Fabio Junqueira, Eduardo Lago, Daniel Dantas, Zezé Polessa... era muita gente. Ah... e Maria Padilha.


Esta coluna é sobre Maria Padilha. Como jornalista, não era fácil lidar com "os grupos". Eles não aceitavam que um ou outro se destacassem nesse ou naquele espetáculo. Afinal, eram grupos. Se alguém era procurado para dar uma entrevista, tinha que ser com todos. Você marcava com um e, na hora agá, apareciam 15. Mas era quase impossível não admitir que Maria Padilha era um destaque no Pessoal do Despertar. Na primeira peça, "O despertar da primavera", de Frank Wedekind, em 1979, ela fazia um corcunda que matava o público de tanto rir. Mas foi em "Happy-end", de Kurt Weill, Elisabeth Hauptmann e Bertolt Brecht, no ano seguinte, na arena do Teatro Candido Mendes, que o público se apaixonou por Maria definitivamente. Foi uma aparição. Linda e talentosa - que mais o teatro poderia querer? Não foi por acaso que ganhou uma indicação de melhor atriz para o Prêmio Mambembe.


Maria Padilha tem um humor muito peculiar. Certamente influenciada por Marília Pêra - o Pessoal tinha Marília como uma deusa -, ela se livrou da influência sem perder um jeito Marília de interpretar. É Marília, mas é Maria também.


O espetáculo seguinte é histórico. O Pessoal do Despertar ocupou a piscina do Parque Lage para fazer "A tempestade". Quem viu viu. Quem não viu nunca vai saber o que era aquela juventude se entregando ao texto de Shakespeare e às águas de uma piscina que já havia ficado célebre em cenas do filme "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade. Inesquecível.
Os grupos começaram a acabar quando se oficializaram. No Governo Brizola, eles ganharam os teatros do estado. O Pessoal do Cabaré foi para o Glaucio Gill; o do Despertar, para o Villa-Lobos. O Despertar montou "O círculo de giz caucasiano". E acabou.


Mas Maria foi em frente. Esteve em outro - "Uma peça como você gosta" -, "Amor por anexins", "A bandeira dos cinco mil réis"... Em "A bandeira..." Maria iniciou atividades de produtora. E foi em frente: "Lucia McCartney", "O mercador de Veneza", "As três irmãs", "Mão na luva", "Antônio e Cleópatra"... talvez seja a atriz de sua geração que mais representou Shakespeare no Rio.
É curioso perceber que muita gente dos grupos está em cartaz no momento. Buza Ferraz está lançando um centro cultural no Leblon. Pedro Cardoso faz parte do elenco de "A casa da mãe Joana", o mais recente sucesso de Hugo Carvana no cinema. Miguel Falabella escreve a próxima novela das seis, "Negócio da China". E Maria Padilha... Maria está no teatro, ora. Produzindo e atuando. Ela é a estrela da remontagem de "Cordélia Brasil", de Antonio Bivar, na arena do Espaço Sesc em Copacabana.


Não é a melhor peça do seu currículo. Mas a culpa não é dela. Maria defende com garra o personagem que Norma Bengell criou em 1968. Nem de Gilberto Gawronsky, um diretor que tem sempre uma visão criativa dos espetáculos. Nem do elenco de apoio - o ótimo Cadu Fávero e o promissor George Sauma. Nem de Bivar, que continua interessante 40 anos depois. Talvez "Cordélia Brasil" seja um texto de ocasião. Fazia todo o sentido em 1968. Mas é difícil embarcar nele hoje.
Mas o fato de "Cordélia Brasil" não ser o melhor espetáculo em cartaz pouco importa. O importante é que Maria Padilha está em cena. E, se eu fosse você, não perderia a oportundiade de ver na arena, mais uma vez, um pouquinho da Portia de "O mercador de Veneza", do Asqueroso de "O despertar da primavera", da Rosalinda de "Uma peça como você gosta"... Todas são um pouco a Cordélia. Todas são Maria Padilha. A Cordélia, nem tão bem-sucedida, deixa claro o amor de Maria Padilha pelo teatro. Mas, melhor que isso, deixa mais claro ainda o amor do teatro por Maria Padilha.


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