quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Maria Padilha, a mulher mais feliz da novela das oito

Em uma novela em que há mulheres apanhando do marido, enlouquecendo por ciúmes, apaixonando-se por padre, sofrendo de alcoolismo, enfrentando preconceito por serem lésbicas, Hilda, a personagem vivida por Maria Padilha, é uma ilha de tranqüilidade e equilíbrio. Feliz no trabalho e na família, era a mais bem resolvida mulher da história e a prova de que nem todo mundo precisa sofrer.
Era. Nos próximos capítulos de Mulheres Apaixonadas, sua vida boa vai desmoronar. Hilda descobrirá que tem câncer de mama, levantando mais uma das várias bandeiras sociais da trama de Manoel Carlos. A atriz Maria Padilha, no auge de seus 44 anos fala sobre essa reviravolta na vida da personagem e mostra de onde vem o bom humor de Hilda.
- Você acha que a sua personagem é a mulher mais feliz da trama?
- Não, não é só ela. Eu considero a Lorena (Suzana Vieira) uma mulher feliz. As pessoas têm uma visão de felicidade que eu não compartilho, muitos acham que ser feliz é estar feliz, eu acho que ser feliz é querer ser feliz. Estar feliz é conjuntural, de repente você está feliz, dois minutos depois não está mais. Espere só um minuto (pede a atriz, enquanto fala com uma empregada). Viu, a vida é assim: a gente tá feliz até cair um balde de água no chão e molhar tudo (risos).
- Mas você já sabia que sua personagem iria ficar doente na novela?
- Quando recebi o perfil da personagem, o Manoel Carlos já me disse que ela teria uma doença séria, e ponto. Não sei se ele não sabia que doença seria, ou se não quis me falar. O que ficou combinado é que eu faria a Hilda bem alto-astral para que contrastasse e as pessoas tivessem esse tipo de reação: "nossa, logo ela vai ficar doente". As pessoas associam muito doença à infelicidade, principalmente câncer, e a história da personagem vem mostrar que nem sempre é assim. Parece que a pessoa que tem câncer tem culpa. Isso vai servir para tirar um pouco dessa carga das pessoas.
- E quando você descobriu que ela teria câncer de mama?
- Há uns dias, o Ricardo Waddington (diretor) veio me perguntar o que achava da personagem ter câncer, e eu disse que eu achava boa a idéia. Novela vive de conflito.
- E essa já tem bastante conflito...
- No caso do meu núcleo, não. É bacana mostrar que em um painel de tantas mulheres e paixões tem uma história de amor que deu certo. Mas felicidade não gera conflito.
- Essa relação bacana com seu marido e sua filha na trama vai ser abalada?
- Não sei muito o que vai acontecer, só tenho nas mãos o capítulo em que ela descobre um caroço no seio e não tem muita certeza do que é. Obviamente, a doença vai mexer com a relação dela com o marido. A mulher diante de uma doença dessas deve se sentir abalada na feminilidade. Acho que vai mexer também com a irmãs, que têm aqueles problemas tristes, mas tão subjetivos. Agora surge um problema objetivo de fato.
-É a primeira vez que você trabalha com o Manoel Carlos?
- É e não é. Quando comecei a fazer essa novela, o Manoel Carlos me lembrou que em Água Viva, a primeira novela que eu fiz, ele escrevia com o Gilberto Braga. Era colaborador. Eu não sabia.
- Foi numa gravação de Água Viva que você quase apanhou em Ipanema?
- Foi (risos). A gente foi gravar uma cena que era uma simulação de topless, estávamos com protetor nos seios (lib), era tudo muito sutil, mas os banhistas não gostaram. Jogaram areia, latas. Eu, a Glória Pires e o Roberto Talma (diretor) saímos correndo da praia. Acho que não era uma coisa de época. O topless não pegou mesmo no Brasil. Eu mesma não faço topless, não, não gosto que as pessoas fiquem me olhando (risos). Já basta olharem por causa da novela. Deus me livre!
- Você não gosta de ser reconhecida, abordada nas ruas por fãs?
- Adoro fazer sucesso, mas não gosto muito da fama. Sucesso é fazer uma coisa bem e as pessoas te admirarem por isso. Já a fama... Tem milhões de pessoas famosas que não sabemos de onde vêm, o que fazem. Fama é uma coisa que não depende do seu trabalho, depende dos humores das pessoas.
- Sente falta de fazer teatro?
- Acho que o ator precisa se exercitar em outros meios. Deixei de ter um contrato grande com a Globo para evitar de emendar uma novela na outra, gosto de circular por outros meios. E no teatro tenho tempo de trabalhar os personagens, de ensaiar, na TV é tudo muito rápido. Mesmo no cinema brasileiro, não temos todo esse tempo.
- É verdade que você posou para a Playboy (1994) para financiar uma montagem teatral sua de A Falecida, de Nelson Rodrigues?
- É verdade, eu estava muito obcecada, não tinha patrocínio, então fiz isso. Mas não acho nenhum heroísmo. As pessoas dizem: "nossa, que bacana". Não sou tão louca assim. Mas foi muito legal. As fotos ficaram bacanas e a peça foi bem também.
- Você tem uma preocupação muito grande com a sua aparência?
- Eu precisava fazer mais ginástica, mas do que gosto mesmo é de dançar. No ano passado, contratei um professor particular de dança de salão. Ele vinha na minha casa e ficávamos dançando bolero, mambo, gafieira. Procuro também dormir bem e cuidar da pele. Tenho uma sorte: meu pai é dermatologista e me dá uns toques. Acho legal a gente se cuidar, até porque como atriz, a aparência pode nos limitar para esse ou aquele papel. Sempre pareci mais moça do eu era, acho que são os meus traços. Por um lado é bom, por outro, morria de medo de pular do papel de garotinha para o de velhinha. Tinha medo de nunca fazer papel de mulher mesmo (risos).
- A Hilda não vai voltar a ser a mais bem-sucedida das Mulheres Apaixonadas?
- Espero que dê tudo certo para ela. O Manoel Carlos tinha me falado que eu iria fazer uma das mulheres mais bem-sucedidas da novela. Ela trabalha, é feliz no casamento se dá bem com a filha. Para mim está sendo superlegal porque sempre faço a maluca. É a primeira vez que faço uma pessoa normal, fofa, bem-amada. E olha que quase o Manoel (Carlos) me deu a Heloísa (papel de Giulia Gam) (risos).

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