quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Papeando com Maria Padilha!


Papo bom, não dá vontade de terminar. E foi assim neste clima que ocorreu a entrevista com aatriz Maria Padilha, que interpreta a Teresa em Praça Saens Peña. O blog do Praça papeou com uma das mais marcantes atrizes de sua geração, nascida no Rio de Janeiro e também grande responsável pelo nascimento do longa Praça Saens Peña. Confira aqui!

Blog do Praça: Como aconteceu o convite para fazer o Praça Saens Peña?
Maria Padilha: Tem uma história que o Chico Diaz que lembrou. A gente estava na minha casa (eu sou amiga do Vinícius) e estava tendo uma festa lá, aí o Vinícius virou para mim e para o Chico e falou: Poxa adorei vocês no Matadores, muito legal vocês dois juntos...Aí a gente respondeu uma coisa assim: Ah, então faz um filme aí para gente fazer que gente faz! Um tempo depois o Vinícius ligou para mim e disse que tinha feito o filme, que o roteiro estava pronto para eu e o Chico fazermos.

BP: A sua personagem mostra uma figura típica carioca: uma mulher que trabalha (dentro e fora de casa), cuida da filha, do marido e que tem o grande sonho de comprar a sua casa própria. Como foi interpretar uma personagem tão presente no cotidiano das pessoas? Isso se tornou um desafio a mais na sua carreira?
MP: Eu acho que qualquer personagem para mim é um grande desafio, independente da classe social dele. Fazer um personagem de classe média (que é média, média, que conta moeda), foi muito legal para mim. Em televisão e em cinema eu ainda não havia feito, já havia feito em teatro. Mas, na linguagem cinematográfica e de televisão é um personagem que as pessoas não costumam associar com a minha figura, por isso talvez eu não seja chamada, estou até arriscando uma razão para isso. Foi muito legal porque eu tive a chance de entrar em mais um universo desconhecido para mim, foi muito interessante.

BP: Você utilizou alguma espécie de laboratório ou se inspirou em alguém para compor a personagem Teresa?
MP:
 Desde que eu fiquei sabendo que ia fazer o filme, eu comecei a observar e a tentar entender porque o Vinícius tinha feito um filme passado na Tijuca. A Tijuca era diferente? Eu não tinha entendido isso. Eu estava fazendo uma peça na época, Antônio e Cleópatra, e tinha um ator que trabalhava comigo, o Paulo Hamilton, que é ator da Cia de Laura e também fez Tropa de Elite, ele é um ator super bacana. Aí eu comentei com ele sobre o filme e ele é de uma família da Tijuca e a gente conversava muito, sobre quais eram as diferenças, o que tinha lá que aqui na Zona Sul não tinha. E também na produção da peça, tinha uma produtora, que era da Tijuca, e eu observava muito ela. Se eu não tivesse que fazer o filme, eu jamais teria olhado ela com esse olhar, mas quando a gente começa a se interessar por um assunto, tudo que está relacionado a ele, começamos a enxergar de outra maneira, como se tivéssemos com uma lente. Então comecei a reparar no jeito de vestir e o jeito que ela era. Eu percebi que lá na Tijuca, o feminino e o masculino ainda estão bem preservados, mulher é mulher e homem é homem. Então, ela é uma produtora, trabalha, é guerreira e tal, mas mantém aquela coisa bem feminina: cabelão, vestidos, decotes. Isso dentro de um pudor feminino. Eu fiquei observando esse jeito dela e conferindo com o Paulo Hamilton. E aí descobri que a Tijuca é um bairro com códigos muito especiais, muito interessantes. É falar de um lugar que está aqui ao lado, é só atravessar o túnel Rebouças, mas que é diferente mesmo, parece que é uma cidade menor, onde as pessoas ainda se cumprimentam, tem uma cordialidade na rua e uma falta de stress, que eu acho a Zona Sul é muito estressada, todo mundo tem medo, e lá o tempo parece que tem uma coisa mais calma, mais suave, as pessoas parecem que têm mais tempo umas para as outras, para conversar, para sentar na praça e ouvir um rádio, uma música. Me lembra um pouco o subúrbio descrito por Nelson Rodrigues nas peças dele, como A Falecida ou nos contos como A vida como ela é, que é um subúrbio que não tem mais no Rio, porque os subúrbios ficaram muito violentos. E a Tijuca manteve essa gramática muito cordial entre as pessoas, muito educada, parece que tem uma coisa mais antiga, não no sentido pejorativo, antiga no sentido do que era o Rio de Janeiro nos anos 1970. E a impressão que dá é que lá não vai mudar, como tem mudado vertiginosamente em outros lugares.
BP: Como está a expectativa para o lançamento? Você acha que o público vai receber bem? Acha que os moradores da Tijuca vão se identificar?
MP: Tomara que sim. Porque eu me sinto uma intrusa falando deles. Eu acho que o filme tem um tom quase documental, acho que tentamos não representar, mas tentamos vivenciar para que, por exemplo, quando estivéssemos com o Aldir Blanc não parecesse que estávamos interpretando. Então a gente (eu e Chico Diaz) tentou vivenciar isso e espero que o pessoal da Tijuca se sinta retratado à altura. Porque nós fizemos o possível e com muito carinho, porque eu adorei aquele universo, achei um universo incrível!

BP: Quais são seus próximos projetos?
MP: Acabei de gravar a minissérie Cinquentinha do Aguinaldo Silva, dirigida por Wolf Maia e que estreia dia 08 de Dezembro. Em Março acho que farei um filme com Paulo Caldas em Recife e Ouro Preto, com o título ainda à confirmar. É um projeto que até me envolvi como produtora (a produtora é na verdade a Vânia Catani) e também estou com um projeto de uma peça, mas que ainda está em fase de captação de recursos e será uma peça passada no século XVIII, dirigida pelo Miguel Falabella (foi traduzida e escrita por ele também), com 10 atores como Ney Latorraca, Stênio Garcia, Natália Lage. E estou aguardando com muita ansiedade a estreia do Praça, que foi feito com muito carinho, não é só porque eu fiz, mas sabe quando a gente e vê e acha que ficou melhor do se imaginava? O filme ficou muito legal. Acho que o Vinícius fez um trabalho extremamente delicado, bacana mesmo. O filme tem um tom interessante, sem caricatura. Não tem melodrama, tem um tom especial, sutil sobre os seres humanos, sendo ou não da Tijuca, pois os personagens ficaram com uma vida interior. É parte da Tijuca, mas é ser humano.

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