sexta-feira, 14 de setembro de 2012

" A Tempestade " de 1982 - O Pessoal do Despertar - Maria Padilha e Miguel Falabella

 
"A Tempestade" (anos 80)



A Tempestade , 1982
Acervo Cedoc/FUNARTE
Registro fotográfico autoria desconhecida

Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, Rio de Janeiro RJ

Em cena, Miguel Falabella (Fernando), Ivan Alves e Victor Haim

Histórico
Quarto dos cinco espetáculos realizados pelo Pessoal do DespertarA Tempestade inova ao transformar um espaço real em cenário. Com direção de Paulo Reis, e atuação de Daniel Dantas, Fábio Junqueira, Maria Padilha Miguel Falabella, a montagem marca a geração, que nos anos 1980, tem entre 20 e 30 anos.
Yan Michalski, na crítica ao espetáculo, descreve o impacto da primeira cena: "Quando, na sessão de sábado, o toldo que cobre o pátio interno da Mansão Lage foi magicamente recolhido, e a ilha tropical na qual se desenrola a ação de A Tempestade apresentou-se debaixo de um céu discretamente estrelado, o público aplaudiu espontaneamente. O espetáculo mal começado, já se tornava evidente que o protagonista da noite seria o espaço que o Pessoal do Despertar escolheu e recriou para a sua versão do poema shakespeariano".1
O pátio interno da mansão do Parque Lage assemelha-se ao formato do teatro elisabetano. Na área aberta, o público é colocado, em arquibancadas, de frente para a piscina que ocupa o centro do pátio. Sobre ela o grupo constrói uma ponte de madeira, onde se passa a maior parte das cenas. A ação se espalha por todo o espaço visível: pelos quatro corredores laterais do prédio; pelos telhados, onde alguns personagens aparecem magicamente e de onde descem agarrados em cordas; e dentro da piscina, onde alguns atores mergulham. A personagem Ariel pula direto do telhado, numa entrada em cena de grande impacto. A piscina materializa a água que envolve a ação em diversas cenas (o naufrágio, a praia, a ilha) e se torna essencial para a captação do clima da peça pelo íntimo entrosamento dos acontecimentos da natureza. Serve também à criação de um impactante efeito de iluminação, através do qual os reflexos da superfície d'água são projetados para cima do público, englobando-o no encantamento aquático. A magia se torna o principal elemento da linguagem e a maior qualidade do espetáculo. Para a criação desse clima, concorrem a trilha sonora rica em sons que sugerem uma fonte sobrenatural e, sobretudo, a forte estilização do trabalho corporal dos atores, alguns dos quais alcançam, através de um intensivo preparo acrobático, uma leveza que parece desafiar a lei da gravidade.

Mas, para o crítico Yan Michalski: "Existe uma excessiva defasagem entre a capacidade do grupo de valorizar essa superfície sensorial da peça e a modéstia dos seus recursos específicos necessários para o sempre perigoso corpo-a-corpo com a escrita shakespeariana. [...] Existem poucas peças cujo conteúdo decorre tão diretamente das imagens verbais formuladas pelo poeta [...]. A formação teatral do Pessoal do Despertar, como de todos os grupos contemporâneos seus, atribui importância secundária à projeção dos valores literários do texto, que no caso de A Tempestade seria fundamental".2





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